PERDEU MANÉ Ana Carolina Medeiros de Assis

PERDEU MANÉ

Ana Carolina Medeiros de Assis

Há 8 anos atrás um amigo foi assaltado na sua casa brutalmente, ele acabava de chegar do trabalho. Cerca de 4 assaltantes fortemente armados e encapuzados entraram arrombando a porta da frente. Com o cano da arma na cabeça dele prenderam a mãe, o pai e sua filha pequena no lavabo, amarraram sua esposa numa cadeira enquanto outros pegavam todos os celulares, objetos, dinheiro, jóias e procuravam por armas, todo tempo ameaçando estourar a cabeça dele e chamando-o de vagabundo. 

Colocaram tudo que puderam levar no carro dele e ainda derramou no chão toda a comida que estava pronta na mesa esperando para o jantar. 

No final da tragédia ele desesperado foi desamarrar a mulher e abrir a porta do lavabo, encontrou sua filha em choque, seu pai todo urinado e sua mãe espremida na parede apavorada. 

Ele era um homem alegre, muito divertido, fazíamos passeios com nossas famílias juntos. 

Nunca mais ele foi o mesmo, foi ficando triste e deixou de sair de casa. 

Ouvindo seu relato dias depois nunca saiu da minha cabeça nem muito menos da dele as últimas palavras do chefe dos assaltantes “ PERDEU MANÉ”, é assim que os bandidos se referem aos cidadãos de bem, o modus operandi perverso deles.

Hoje vendo e ouvindo um iluminado ministro, supremo da mais alta corte do país proferir essas palavras para um cidadão que perguntou se a corrupção no Brasil ia sair impune, me senti igual ao meu amigo, um frio na barriga, um misto de pavor, ódio e amargura. 

Eu vivi pra ver um iluminado pago com nosso suor sagrado para defender nossos direitos mais sagrados se igualando as criaturas das trevas que fizeram isso com meu amigo. 

Pois creiam amigos, omiti grande parte dessa trágica história para manter o anonimato, pois a história toda foi bem pior, não me cabe relatar detalhes.

Escrevo essas linhas com lágrimas nos olhos e muito medo do futuro do nosso país onde os espertos são os bandidos que roubam, ganham tudo e saem impunes e os manés somos nós, os escravos modernos.

#BrasilLIVRE