Durante todo este tempo, a oposição ao lulo-petismo sempre esteve fragilizada. O PSDB, por exemplo, mantém-se distante dos movimentos populares e sociais de base exatamente porque sempre fora um partido de natureza eminentemente congressual. Esta a razão porque perdera tanto o poder federal quanto a bandeira da social-democracia para o PT – que não mediu esforços retóricos para transformar o bom legado do governo FHC numa perversa “herança maldita”. Sofreram com isso o Serra e o Alckmin, e agora também o Aécio. A esquerda socialista (ou comunista), por seu turno, ainda se comporta como uma viúva da ex-URSS, com chavões ultrapassados que só encontram eco na própria militância, e não convence nenhum cidadão comum (e minimamente inteligente) que tenha nascido a partir dos anos 1980. Além disso, a maioria desta esquerda carcomida nasceu dos “desencantos” com o berço petista. Do lado oposto, a direita praticamente não ocupa os espaços de discussão pública no Brasil. Ela age mesmo é nos bastidores. A direita tanto se encontra acéfala no plano político nacional que seu maior arauto é um colunista da revista Veja: o Reinaldo Azevedo. Ademais, no atual cenário eleitoral quem resolveu explorar o nicho direitista, levantando as bandeiras clássicas da livre concorrência, privatização e Estado mínimo, foi o incipiente Pr. Everaldo (PSC). Enfim, a maior prova de que a direita não aparece no plano de discussão política é que há incautos chamando o Aécio Neves de direitista extremado.
A bem da verdade, a Marina Silva só surgiu como este “fenômeno” eleitoral justamente porque não temos uma oposição concomitantemente forte, organizada e com projeto definido. O que é algo absolutamente lamentável. Há décadas o que rege o debate público no Brasil é a pobre dicotomia PT-PSDB, mediada por falácias de ambos os lados. E isto chegou a um ponto de tal modo insustentável que é praticamente impossível comunicar fora desta “caixinha”. Marina realmente tem razão quando propõe superar a polarização aproveitando também o melhor dos dois. Trata-se mais de um rompimento do ciclo vicioso da retórica do que propriamente uma ruptura institucional. Exatamente por isso ela propõe uma “nova política” no sentido de combate à “polarização que tem se constituído num verdadeiro atraso para o país” – para usar suas próprias palavras. A realidade é que nem ela nem qualquer de nós sabe exatamente o que é esta tal de “nova política”. Aliás, se soubéssemos seu significado já não se poderia chamá-la de nova. É algo parecido com o que propõe Anthony Giddens em “Para além da esquerda e da direita”. Não se trata da esquerda, nem da direita, e muito menos do centro (o terceiro incluído), mas de um Terceiro Inclusivo que busca superar a dicotomia dos opostos englobando-os numa síntese superior.
Por isso mesmo a Marina é uma incógnita paradoxal: Desperta-nos tanto esperança (!) quanto temor (?). Esperança porque, no plano político, encarna muito bem a superação da referida dicotomia que já “encheu o saco” dos eleitores menos apaixonados (!) Temor porque ela assume a cabeça de chapa numa situação trágica, não possui uma base partidária autêntica e sólida, e muito menos um projeto administrativo definido (?). Seu “boom” eleitoral lembra-nos Jânio Quadros (o que provoca medo). Ela, no entanto, é firme em suas posições, tem uma bela história pessoal, e trata a política com seriedade e ética. Fez muito bem em assumir publicamente que será Presidente de apenas um mandato. Este ponto é fundamental para trazer-nos segurança. Assim, tal qual sugere o Senador Pedro Simon (PMDB), a Marina teria todas as chances de fazer um governo de coalizão nos moldes do Itamar Franco (o que traz esperança).
No atual estágio da nossa “politiquice”, esta síntese difusa e amorfa que encontrou em Marina uma representação é a única coisa capaz de vencer o lulo-petismo. Convenhamos: É algo assaz perigoso. Porém, na minha opinião, mais perigoso ainda é o fortalecimento deste populismo barato que embala os governos Lula e Dilma – e que, afinal, é a matéria-prima de todo este desmonte político que insiste em rebaixar nossa jovem democracia.
Em 2002 a esperança venceu o medo em favor de Lula, agora poderá ocorrer o mesmo em seu desfavor.
Enfim, nas exclamações e interrogações da vida política, as urnas trarão um ponto final. Ou não?!
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