sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Eleições 2014: Entre medos e esperanças - Vinicius Dourado Salum

Qualquer análise do cenário político atual não pode desconsiderar o seguinte dado fático: A onda do lulo-petismo domina nossa política desde meados de 2002. Se Dilma é Presidente, e ainda concorre à reeleição, é porque Lula (seu padrinho político) ainda desponta como a maior força político-eleitoral do nosso país. Dilma é só uma reles burocrata, gerente de projetos administrativos, sem qualquer expressão ou patrimônio político. As bases que lhe dão sustentação no governo passam ao largo do seu raio de influência pessoal. Não é preciso uma análise muito aprofundada para chegar-se a esta conclusão, uma vez que o próprio PT baiano, por exemplo, nos fornece uma prova cabal: Já não se enuncia sequer a força do povo como mote eleitoral, senão apenas a “força de Lula”. O “lulismo” se retroalimenta exatamente do mesmo mecanismo de expressão propagandística que outrora – nos tempos do velho ACM – chamávamos de “carlismo”. É o resultado do nosso adesismo patológico.

Durante todo este tempo, a oposição ao lulo-petismo sempre esteve fragilizada. O PSDB, por exemplo, mantém-se distante dos movimentos populares e sociais de base exatamente porque sempre fora um partido de natureza eminentemente congressual. Esta a razão porque perdera tanto o poder federal quanto a bandeira da social-democracia para o PT – que não mediu esforços retóricos para transformar o bom legado do governo FHC numa perversa “herança maldita”. Sofreram com isso o Serra e o Alckmin, e agora também o Aécio. A esquerda socialista (ou comunista), por seu turno, ainda se comporta como uma viúva da ex-URSS, com chavões ultrapassados que só encontram eco na própria militância, e não convence nenhum cidadão comum (e minimamente inteligente) que tenha nascido a partir dos anos 1980. Além disso, a maioria desta esquerda carcomida nasceu dos “desencantos” com o berço petista. Do lado oposto, a direita praticamente não ocupa os espaços de discussão pública no Brasil. Ela age mesmo é nos bastidores. A direita tanto se encontra acéfala no plano político nacional que seu maior arauto é um colunista da revista Veja: o Reinaldo Azevedo. Ademais, no atual cenário eleitoral quem resolveu explorar o nicho direitista, levantando as bandeiras clássicas da livre concorrência, privatização e Estado mínimo, foi o incipiente Pr. Everaldo (PSC). Enfim, a maior prova de que a direita não aparece no plano de discussão política é que há incautos chamando o Aécio Neves de direitista extremado.


















A bem da verdade, a Marina Silva só surgiu como este “fenômeno” eleitoral justamente porque não temos uma oposição concomitantemente forte, organizada e com projeto definido. O que é algo absolutamente lamentável. Há décadas o que rege o debate público no Brasil é a pobre dicotomia PT-PSDB, mediada por falácias de ambos os lados. E isto chegou a um ponto de tal modo insustentável que é praticamente impossível comunicar fora desta “caixinha”. Marina realmente tem razão quando propõe superar a polarização aproveitando também o melhor dos dois. Trata-se mais de um rompimento do ciclo vicioso da retórica do que propriamente uma ruptura institucional. Exatamente por isso ela propõe uma “nova política” no sentido de combate à “polarização que tem se constituído num verdadeiro atraso para o país” – para usar suas próprias palavras. A realidade é que nem ela nem qualquer de nós sabe exatamente o que é esta tal de “nova política”. Aliás, se soubéssemos seu significado já não se poderia chamá-la de nova. É algo parecido com o que propõe Anthony Giddens em “Para além da esquerda e da direita”. Não se trata da esquerda, nem da direita, e muito menos do centro (o terceiro incluído), mas de um Terceiro Inclusivo que busca superar a dicotomia dos opostos englobando-os numa síntese superior.

Por isso mesmo a Marina é uma incógnita paradoxal: Desperta-nos tanto esperança (!) quanto temor (?). Esperança porque, no plano político, encarna muito bem a superação da referida dicotomia que já “encheu o saco” dos eleitores menos apaixonados (!) Temor porque ela assume a cabeça de chapa numa situação trágica, não possui uma base partidária autêntica e sólida, e muito menos um projeto administrativo definido (?). Seu “boom” eleitoral lembra-nos Jânio Quadros (o que provoca medo). Ela, no entanto, é firme em suas posições, tem uma bela história pessoal, e trata a política com seriedade e ética. Fez muito bem em assumir publicamente que será Presidente de apenas um mandato. Este ponto é fundamental para trazer-nos segurança. Assim, tal qual sugere o Senador Pedro Simon (PMDB), a Marina teria todas as chances de fazer um governo de coalizão nos moldes do Itamar Franco (o que traz esperança).

No atual estágio da nossa “politiquice”, esta síntese difusa e amorfa que encontrou em Marina uma representação é a única coisa capaz de vencer o lulo-petismo. Convenhamos: É algo assaz perigoso. Porém, na minha opinião, mais perigoso ainda é o fortalecimento deste populismo barato que embala os governos Lula e Dilma – e que, afinal, é a matéria-prima de todo este desmonte político que insiste em rebaixar nossa jovem democracia.

Em 2002 a esperança venceu o medo em favor de Lula, agora poderá ocorrer o mesmo em seu desfavor.

Enfim, nas exclamações e interrogações da vida política, as urnas trarão um ponto final. Ou não?!

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